Túnel Santos-Guarujá: Mota-Engil vence leilão e dará início à obra histórica aguardada há 100 anos
Após mais de um século de espera, o sonho da ligação direta entre Santos e Guarujá, no litoral paulista, deu um passo histórico. Nesta sexta-feira (5), a empresa portuguesa Mota-Engil venceu o leilão realizado na B3, em São Paulo, e será responsável por construir e operar o Túnel Santos-Guarujá, uma das obras mais aguardadas da infraestrutura brasileira. O projeto é avaliado em cerca de R$ 6,8 bilhões e será executado em parceria entre os governos federal e estadual, com expectativa de transformar a mobilidade da Baixada Santista e ampliar a capacidade logística do Porto de Santos, o maior da América Latina.
Leilão histórico na B3 com presença de autoridades
A sessão pública na bolsa de valores reuniu nomes de peso da política nacional, como o vice-presidente Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e Márcio França (Empreendedorismo).
Na disputa, a Mota-Engil ofereceu 0,5% de desconto no valor da contraprestação anual a ser paga ao longo dos 30 anos de concessão. O teto estipulado pelo edital era de R$ 438,3 milhões por ano. Já a espanhola Acciona, concorrente direta, não apresentou desconto, o que garantiu a vitória dos portugueses.
Segundo o governador Tarcísio de Freitas, a assinatura do contrato representa um divisor de águas:
“Este é um marco histórico para São Paulo e para o Brasil. O túnel vai mudar a vida de milhões de pessoas, reduzir custos logísticos e integrar de forma definitiva a região metropolitana da Baixada Santista”, destacou.
A grandiosidade do Túnel Santos-Guarujá
O projeto não é apenas simbólico, mas também inovador em termos de engenharia. O túnel será a primeira ligação submersa do Brasil e também a maior da América Latina, destacando o país no cenário mundial de obras de infraestrutura.
Dados técnicos da obra:
- Extensão total: 1,5 km, sendo 870 metros de túnel submerso;
- Estrutura: três faixas por sentido (uma adaptável ao VLT – Veículo Leve sobre Trilhos), ciclovia e passagem de pedestres;
- Profundidade: pelo menos 21 metros abaixo do canal do Porto de Santos;
- Tempo estimado de travessia: menos de 5 minutos, contra até 1 hora nas balsas em horários de pico.
Além da mobilidade, o túnel promete reduzir a dependência das tradicionais balsas, desafogar o tráfego da Rodovia Cônego Domênico Rangoni e ampliar a capacidade de escoamento de cargas pelo Porto de Santos, que responde por quase um terço do comércio exterior brasileiro.
Cronograma de execução
O projeto será executado em fases, com prazo estendido para garantir a complexidade da engenharia:
- Início das obras: 2026;
- Primeiros acessos e melhorias na mobilidade urbana: 2030;
- Operação plena do túnel: 2038.
Embora o cronograma pareça longo, especialistas explicam que a técnica utilizada exige planejamento meticuloso. O túnel será construído em docas secas, com seis módulos de concreto pré-moldados. Após finalizados, esses módulos serão transportados, submersos e encaixados no fundo do canal, sem interromper o tráfego de embarcações — uma inovação importante para a logística portuária.
Um sonho centenário finalmente realizado
A ideia de uma ligação direta entre Santos e Guarujá surgiu ainda na década de 1920. Desde então, diversos governadores e presidentes prometeram tirar o projeto do papel. Nomes como José Serra, Geraldo Alckmin, Márcio França e João Doria chegaram a defender a construção, mas esbarraram em entraves financeiros, políticos e técnicos.
A escolha pelo túnel, e não por uma ponte, foi estratégica. Além de garantir a passagem de navios de grande porte, a solução submersa oferece maior resistência a ventos fortes e condições climáticas adversas, comuns na região costeira.
Pedágio e tarifas no sistema free flow
O túnel funcionará com o sistema free flow, que elimina as tradicionais praças de pedágio. A cobrança será feita por meio de sensores que identificam eletronicamente a passagem dos veículos.
- Pedestres e ciclistas: isentos de tarifa;
- Carros de passeio: valor projetado em R$ 6,15 por travessia (base 2024), sujeito a atualização até a inauguração;
- Veículos de carga: valores diferenciados, conforme eixo.
Esse modelo busca maior fluidez no tráfego e eficiência na cobrança, evitando congestionamentos.
Investimento público e privado
O custo total estimado é de R$ 6,8 bilhões, dos quais até R$ 5,14 bilhões virão de investimento público, divididos igualmente entre o governo federal e o estado de São Paulo. O restante será custeado pela concessionária Mota-Engil, responsável pela execução e pela operação do túnel pelos próximos 30 anos.
Segundo especialistas, o modelo de parceria público-privada (PPP) adotado permite viabilizar o empreendimento sem comprometer o orçamento público, ao mesmo tempo em que garante retorno ao investidor privado.
Impactos para a Baixada Santista e o Brasil
O Túnel Santos-Guarujá vai muito além de uma simples obra viária. Ele representa um avanço estratégico em diversos aspectos:
- Mobilidade urbana: redução drástica na espera das balsas, que transportam diariamente milhares de pessoas entre as duas cidades.
- Economia local: valorização imobiliária, geração de empregos diretos e indiretos durante a obra e após a operação.
- Logística nacional: fortalecimento do Porto de Santos, reduzindo custos de transporte e aumentando a competitividade do Brasil no comércio exterior.
- Sustentabilidade: incentivo ao uso de bicicletas e transporte público, com faixas destinadas a VLTs e ciclovias.
- Integração regional: maior dinamismo econômico para toda a Baixada Santista, que reúne nove municípios e cerca de 1,8 milhão de habitantes.
Repercussão e expectativas
Para a população, a expectativa é de que a obra resolva gargalos históricos. Atualmente, a travessia de balsa entre Santos e Guarujá transporta cerca de 26 milhões de pessoas por ano e enfrenta filas que chegam a horas em feriados e finais de semana.
O presidente da Mota-Engil, em entrevista após o leilão, afirmou:
“É uma honra para nós participar deste projeto emblemático. O túnel não é apenas uma obra de engenharia, mas um símbolo de integração, modernidade e desenvolvimento para o Brasil”.
O Túnel Santos-Guarujá é mais do que uma obra de mobilidade: trata-se de um marco de engenharia, logística e integração regional. Com a assinatura do contrato, o Brasil se aproxima de concretizar um sonho de 100 anos, que promete transformar não apenas a Baixada Santista, mas também a logística portuária nacional.
A expectativa agora é pelo início das obras em 2026, com a certeza de que a região, que tanto aguardou, viverá uma nova era em mobilidade, economia e qualidade de vida.
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